Cartas do Gestor – Outubro 2025

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Prezado(a)s amigo(a)s e investidore(a)s,

Os ativos de risco globais seguiram escalando sem muita dificuldades o proverbial “muro de preocupações” elevado após as surpresas com as tarifas americanas na primeira metade do ano. Em outubro, contribuíram para isso os diversos acordos firmados entre Trump e países asiáticos, mais notadamente com a China. As tarifas médias americanas seguem consideravelmente mais elevadas que no início do ano, mas os cenários de guerra comercial, com escalada de retaliações e danos ao crescimento global, parecem ter sido evitados.

Em meio ao longo ‘apagão’ de dados públicos nos EUA, a divulgação atrasada do CPI de setembro mostrou novamente inflação abaixo do esperado e impacto limitado do repasse de tarifas nos preços ao consumidor. Com isso, e como amplamente esperado, o Fed seguiu cortando a taxa básica de juros. A sinalização futura, contudo, foi mais cautelosa do que a precificação de mercado sugeria, deixando em aberto o resultado da última reunião do FOMC no ano. Como notamos em outubro, a postura do comitê nos próximos meses depende do quadro da atividade econômica que emergirá quando as divulgações de dados forem retomadas (provavelmente ainda passaremos a maior parte de novembro ‘no escuro’). Caso a deterioração do mercado de trabalho se estabilize, devemos ver uma pausa ao redor de 3,5% antes da eventual convergência para uma taxa próxima à neutra (3%).

Esse ambiente seguiu contendo a tendência global de desvalorização do dólar que dominou a primeira metade do ano. Em outubro, o DXY teve alta de 2%, ajudado, em parte, pela forte desvalorização do iene no mês, em meio à turbulência na formação de um novo governo. Também no caso do dólar, os dados a serem conhecidos depois da retomada dos trabalhos das agências governamentais devem ser decisivos no curto prazo.

No Brasil, os dados do mercado de trabalho referentes a setembro mostraram um quadro menos claro de desaquecimento do que no mês anterior, com a criação de vagas formais pelo Caged voltando a surpreender para cima e a PNAD contínua mostrando leve aumento na taxa de desemprego. Com isso, não vemos espaço para que o Copom afrouxe substancialmente o discurso dos últimos meses, e o início dos cortes de juros ainda deve ser visto como distante (seguimos esperando o primeiro movimento em março de 2026). As expectativas de inflação seguiram caindo gradualmente, e ainda vemos espaço para que os números referentes a 2026 passem dos 4,2% atuais para algo abaixo de 4%.

Cabe também notar que, no mês, o real teve desempenho ligeiramente pior que a média das outras moedas emergentes que acompanhamos. Estamos entrando no período do ano que concentra o volume de saída de dólares para pagamentos a matrizes de multinacionais, e uma eventual alta do dólar pode dificultar a continuidade da queda nas expectativas de inflação mencionada acima – mais um motivo para que o Banco Central siga demonstrando cautela.

Luciano Sobral, economista da Neo.

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