Cartas do Gestor – Setembro 2025

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Prezado(a)s amigo(a)s e investidore(a)s,

Os dados da economia americana que seguiram o início dos cortes de juros em setembro mostraram um reaquecimento da atividade. Se confirmado, esse reaquecimento pode levar a uma frustração na precificação de mercado de cortes adicionais até 3,0%.

O impulso para essa retomada, pode estar vindo do afrouxamento das condições financeiras desde o “Liberation Day” de abril, com a alta dos índices de ações e queda dos juros e dos spreads de crédito. Com a inflação ainda relativamente baixa, o alto nível de emprego e os ganhos com ativos financeiros, a renda disponível real segue crescendo a cerca de 2% ao ano e sustentando o crescimento do consumo. O ‘nowcast’ do PIB do Fed de Atlanta, um dos mais acompanhados pelo mercado, indica crescimento anualizado próximo a 4% no terceiro trimestre. Se confirmado, as revisões nas projeções para o ano fechado devem apontar para mais um ano de crescimento acima de 2% – uma desaceleração consideravelmente mais suave do que se previa há poucos meses.

A reação do mercado de trabalho e, por consequência, do Fed a esse reaquecimento deve ditar o comportamento dos mercados de juros e câmbio nos próximos meses. Se os dados de criação de empregos seguirem fracos, os Fed Funds devem se aproximar da precificação de mercado e levar os juros reais a próximo de zero, o que poderia realimentar o enfraquecimento do dólar. Se o mercado de trabalho reagir rapidamente, o ciclo de cortes pode ser interrompido, o que levaria o mercado a reavaliar o diferencial de juros contra outros países que prevalecerá em 2026.

De qualquer maneira, o cenário para enfraquecimento adicional do dólar parece hoje menos claro do que no início de setembro.

Mesmo com a pausa na queda do dólar global (DXY), as moedas de emergentes tiveram mais um mês positivo, com o real adicionando 2% a uma alta total de 14% contra o dólar no ano. Apesar dessa ajuda substancial para a desinflação, o Banco Central segue com uma postura dura, tendo mostrado no Relatório de Política Monetária de setembro projeções de inflação praticamente inalteradas com relação a junho e, na decisão do Copom do mês, reafirmado que ainda está longe de considerar quedas nos juros.

Acreditamos que a consolidação da desaceleração da economia (que parece, finalmente, estar chegando ao mercado de trabalho, com os dados de agosto do Caged e da PNADc indicado substancial queda na criação de empregos) e o cenário ligeiramente mais benigno para inflação levarão o BC a reavaliar essa postura, mas ainda estamos a vários meses dessa sinalização. Seguimos projetando o início dos cortes graduais na Selic para março de 2026.

Luciano Sobral, economista da Neo.

Acompanhe os relatórios de gestão da Neo:

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