Prezado(a)s amigo(a)s e investidore(a)s,
As tarifas anunciadas por Trump causaram perplexidade tanto em metodologia quanto em magnitude. Com o potencial de rompimento de inúmeras alianças econômicas e geopolíticas, os mercados reagiram com temor. Apesar do nome, o Liberation Day ainda não terminou. Após o anúncio agressivo, na típica estratégia de Trump, houve recuos e renegociações e, para diversos países, o tarifaço está suspenso por 90 dias. A esta altura sabemos muito pouco de como será o final dessa história.
Se implementado, a primeira implicação mais prática para a economia norte-americana é uma reaceleração da inflação de volta para próximos de 3,5-4,0%, uma vez que produtos passam a entrar mais caros no país, refletindo as tarifas. A segunda implicação é uma piora na atividade econômica, pondo fim ao excepcionalismo do crescimento americano. O ambiente de negócios mais desafiador e incerto deve suspender, pelo menos temporariamente, investimentos e contratações. Desde o anúncio, o crescimento do PIB americano tem sido revisado para baixo – para próximo de 1,3% em 2025 e 1,0% em 2026, levando o PIB global na mesma direção.
O mandato duplo do Fed de combater a inflação e manter o pleno emprego fica em uma encruzilhada. Antes do anúncio, o presidente do Fed, Jerome Powell, parecia tratar as tarifas como um choque transitório. Mesmo com as falas mais recentes mostrando uma mudança nessa avaliação, o mercado reagiu aumentando a probabilidade de cortes no Fed Fund este ano, indicando uma leitura de que na hora do aperto, o Fed daria mais peso para a atividade econômica do que para inflação.
Nesse período, levantam-se questionamentos a respeito da soberania da economia norte americana e seu famoso privilégio exorbitante. Em tempos normais, devido à elevada confiança dos agentes na economia americana, sinais de crise global acabam apreciando o dólar. Com a reviravolta das tarifas, isso pode estar mudando. Desde o Dia da Liberação, o DXY desvalorizou 4%. Um dos privilégios de ser a moeda de reserva global é poder financiar o déficit fiscal a custos muito baixos. O simples fato de isso ser questionado, pode trazer consequências severas para a trajetória da dívida pública americana.
Aqui no Brasil, em meio a muita volatilidade, o primeiro sinal de mudança no padrão de dólar globalmente forte acabou ajudando um pouco o BRL que paira em torno de 5,70. A dúvida que fica é se esse quadro é permanente. Será que o Brasil consegue se beneficiar desse cenário global? Ou será que suas fragilidades ficarão expostas em um mercado mais avesso ao risco?
O fundamento doméstico continua muito parecido. De olho nas eleições de 2026, vemos o governo com bastante disposição para aumentar gastos, dentro e fora das regras fiscais. Nesse contexto, os canais de transmissão da política monetária restritiva que tenta combater a inflação ficam entupidos. Um exemplo disso é o envio do orçamento de 2026 com R$118 bilhões sem fonte concreta de arrecadação e números para além de 2026 mostrando a extrema fragilidade do arcabouço, que certamente precisará ser rediscutido para o orçamento de 2027.
Mas o que prevaleceu neste mês nos ativos brasileiros foi justamente o cenário externo. O câmbio mais apreciado somado ao risco de recessão global derrubou preços de commodities importantes para o cenário prospectivo de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária. No FMI, os diretores do BC foram nessa linha. Por aqui, por enquanto, as tarifas de Trump parecem ter tornado o balanço de riscos para inflação mais equilibrado, embora a incerteza continue muito elevada.
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