Cartas do Gestor – Abril 2023

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Prezado(a)s amigo(a)s e investidore(a)s,

Desde a segunda semana de março, após a quebra do Silicon Valley Bank, os preços na curva de juros americana implicam um equilíbrio instável entre possíveis caminhos. Nos parece haver baixa probabilidade da trajetória precificada para os Fed Funds (mais uma ou duas altas nas reuniões de maio e junho, seguido de uma série de cortes graduais ao longo de muitos meses) se materializar: ou as projeções de crescimento do mercado estão corretas e a desaceleração gradual vai exigir vários meses de juros ao redor de 5% para garantir a convergência da inflação para 2%, ou, em alguns meses, os problemas na concessão de crédito levarão a uma recessão e os juros terão que cair mais e mais rápido que o precificado.

Há, com isso, mais volatilidade “contratada” para os próximos meses, sobretudo no segundo caso, que ainda não encontra correspondência nos dados econômicos. O primeiro trimestre terminou com atividade global forte, com os primeiros dados de abril sugerindo que, por enquanto, os abalos no sistema bancário americano ainda não provocaram uma queda significativa no consumo ou no sentimento dos empresários. Notamos aqui uma assimetria nas possíveis dinâmicas: uma “renormalização” depende de vários meses sem novos incidentes entre bancos e de dados confirmando o cenário-base, enquanto basta uma rodada de dados ruins ou um grande evento de crédito para que o mercado aprofunde o modo recessivo.

No Brasil, a apresentação do Projeto de Lei do arcabouço fiscal não trouxe novidades com relação ao que já havia sido apresentado, mas levou o mercado a reduzir os prêmios de risco embutidos nos ativos. Com isso (e com a manutenção de um discurso conservador pelo Banco Central), a precificação da curva de juros aproximou-se das nossas projeções (Selic a 12,75% no final deste ano e 10% no final de 2024). Não vemos grandes obstáculos para a aprovação do arcabouço no Congresso, mas levantar as receitas tributárias necessárias para que o governo consiga entregar a trajetória de resultados primários prometida parece uma tarefa muito mais difícil e sujeita a decepções.

Por fim, acreditamos que segue válida a conclusão (do nosso relatório econômico de março) que não há um problema de crédito no Brasil que vá alterar a postura do Banco Central. Apesar da queda nas concessões para empresas, o ritmo de concessões para indivíduos junta-se a outros indicadores de atividade que apontam para uma desaceleração até mais gradual no ritmo de crescimento do que esperávamos no início do ano. Com o cenário de inflação inalterado e uma discussão de mudança de meta por vir, vemos espaço para queda nos juros apenas no segundo semestre.

Obrigado,

Luciano Sobral, economista-chefe da Neo.

 

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