Cartas do Gestor – Janeiro 2024

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Prezado(a)s amigo(a)s e investidore(a)s,

A política monetária dos Estados Unidos seguiu como tema dominante dos mercados, com, no último dia do mês, a primeira reunião do FOMC no ano reduzindo a probabilidade de um início precoce dos cortes de juros (alimentada pelo próprio FOMC em dezembro). Apesar de mais um mês de dados de preços favoráveis, a atividade econômica segue forte (2023 terminou com o crescimento do PIB de 3,1%, com alta da mesma magnitude esperada para o primeiro trimestre deste ano), o que levanta dúvidas sobre a continuidade ininterrupta da convergência da inflação para 2%.

Como notamos no mês passado, a volatilidade da inflação americana deve cair mais em 2024, fazendo com que os dados de atividade tenham importância aumentada: um enfraquecimento do mercado de trabalho pode trazer de volta a possibilidade de cortes de juros antecipados, ou, caso a resiliência prossiga, uma reaceleração causada pelo afrouxamento recente de condições financeiras pode frustrar as expectativas já precificadas nos juros futuros. Seguimos esperando o primeiro corte em Maio e Fed Funds a 4% no final do ano.

O cenário para cortes de juros continua ficando mais claro na Europa, com atividade fraca e inflação em queda mais acelerada. O BCE (zona do euro) e o Riksbank (Suécia) deixaram a porta aberta para o início do afrouxamento no primeiro semestre, possivelmente acompanhados pelo SNB (Suíça). Com isso, o dólar americano deve seguir reinando entre as moedas do G10, o que dificulta a valorização de moedas emergentes. Na Ásia, há sinais de uma leve retomada cíclica na indústria, mas o estímulo chinês deve seguir a conta-gotas, também dificultando a valorização das moedas ligadas a commodities ou ao yuan.

Vemos o Brasil em 2024 mais ao sabor dos movimentos globais de apetite ou aversão a risco do que influenciado por desenvolvimentos locais. O Banco Central deve permanecer em modo “piloto automático” no primeiro semestre, consumindo previsivelmente o (ainda grande) espaço para cortes de juros, mas sem apetite para passos mais ousados, com a inflação ainda relativamente longe do centro da meta e o mercado de trabalho resiliente. O ruído de fundo da política fiscal deve permanecer, mas a mudança de meta para o resultado primário já é altamente antecipada e a disposição para novas aventuras deve ser relativamente baixa, com as eleições de 2026 ainda distantes e a atividade econômica saudável (esperamos crescimento do PIB próximo a 2%).  A temperatura deve voltar a subir perto da virada para 2025, com a definição do orçamento daquele ano e a nomeação do sucessor de Roberto Campos Neto no Banco Central.

Obrigado,

Luciano Sobral, economista-chefe da Neo.

 

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