Cartas do Gestor – Julho 2023

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Prezado(a)s amigo(a)s e investidore(a)s,

A narrativa de um “pouso suave” global dominou os mercados em julho, com preços de ativos de risco (commodities, bolsas e moedas de emergentes, outros índices de ações) em forte alta. A surpresa para baixo na última divulgação do CPI americano deu mais tranquilidade para o Fed fazer o ajuste fino de final de ciclo nos juros, e os dados de atividade seguem mostrando um mercado de trabalho resiliente, enquanto outros indicadores, mesmo de setores da economia mais ligados ao ciclo de juros, sinalizam que dificilmente uma recessão se materializará ainda este ano.

Como comentamos no mês passado, estamos de acordo com o diagnóstico de desinflação nos próximos meses, liderada por preços de alimentos e de bens industrializados – dinâmica que esperávamos no início do ano passado, antes do início da guerra na Ucrânia, e que foi adiada por este evento. Mesmo que a inflação de serviços prove-se persistente, a maior parte dos bancos centrais que cobrimos, provavelmente chegará no final deste ano com juros reais acima dos respectivos níveis neutros e inflação cheia em forte desaceleração. É de fato, um cenário menos arriscado para os valores de fluxos de caixa descontados (ou seja, com menos risco de fortes aumentos de juros) do que em praticamente qualquer ponto dos últimos dois anos.

Temos mais dúvidas sobre a resiliência da atividade em meio a indicadores de sentimento deprimidos, estímulo fiscal em retração e os juros mais altos em muitos anos. Com isso, seguimos vendo assimetria em posições aplicadas em juros, sobretudo em países que estão com juros reais ex-ante contracionistas, com poucos cortes precificados nos próximos meses.

O Brasil tem participado dessa onda de otimismo global, mas cabe notar que o desempenho dos ativos locais tem sido fraco quando comparado aos pares ou ajustado por risco. O real se valorizou apenas 1% contra o dólar no mês, comparado a 6% do peso colombiano e do rand sul-africano e 2% do peso mexicano; o Ibovespa em dólares subiu menos que o MSCI EM, mesmo com a alta da maioria das commodities. Também, como destacamos recentemente, o mercado adiantou-se a um cenário bastante benigno de cortes de juros, de forma que quedas nas taxas mais longas dependem mais de boas notícias na complicada execução do arcabouço fiscal.

Em abril, o então secretário-executivo do Ministério da Fazenda Gabriel Galípolo disse que medidas de aumento de arrecadação serão “quase constantes”; está chegando a hora do governo mostrar que terá sucesso nessa cruzada ou se as metas de resultado fiscal serão frustradas já no primeiro ano do novo regime.

Obrigado,

Luciano Sobral, economista-chefe da Neo.

 

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