Cartas do Gestor – Novembro 2023

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Prezado(a)s amigo(a)s e investidore(a)s,

A direção da maioria dos mercados que acompanhamos seguiu ligada à dos juros americanos. A queda de mais de 50pb das taxas de dez anos levou à valorização da maioria dos ativos, de títulos de dívida local a ações, e contribuiu para um enfraquecimento geral do dólar.

Esse movimento foi endossado pelos últimos dados de atividade e inflação, que levaram o mercado a reforçar a convicção num cenário de “pouso suave” nos Estados Unidos. O crescimento do PIB no quarto trimestre ainda deve ser relativamente robusto (algo pouco abaixo de 2% anualizado), enquanto as divulgações de índices de preços seguem apontando para moderação, com inflação anual caminhando para o intervalo entre 2,5% e 3%.

Porém, como observou um bom estrategista que seguimos , estamos em um período de “equivalência observacional” para os dados, no qual é impossível distinguir entre caminhos de pouso suave ou forçado. Seguimos acreditando que é improvável que esse otimismo generalizado em todas as classes de ativos perdure: com o passar do tempo, ficará claro que o mundo em que os juros curtos podem seguir caindo provavelmente requer uma forte desaceleração de crescimento, que não deve ser inequivocamente positivo para o mundo corporativo.

No Brasil, os dados de inflação seguiram indicando um caminho tranquilo para o Banco Central continuar cortando a taxa Selic, mas acreditamos que as incertezas com o cenário externo farão prevalecer a cautela com a velocidade desse processo. A novidade dos dados recentes é a interrupção (pela PNAD contínua mensal) do crescimento da população empregada, indicando que o ciclo econômico está começando a chegar nos indicadores que reagem de forma mais atrasada aos juros. O consumo doméstico já está estagnado há vários meses, e devemos passar ainda por um enfraquecimento adicional do mercado de trabalho até que os juros mais baixos comecem a ajudar na retomada da atividade.

O tema fiscal segue como ruído de fundo, com os mercados por vezes lembrando do trilema que apresentamos em um relatório de novembro do ano passado: é impossível ter, ao mesmo tempo, aumento de gastos, responsabilidade fiscal (i.e. trajetória decrescente da dívida/PIB) e carga tributária constante. Como o governo acredita que gastos só podem aumentar e o Congresso segue se opondo a aumento de carga tributária, a responsabilidade fiscal está sempre sob ameaça de ser jogada pela janela. Seguimos vendo fraturas prematuras no arcabouço fiscal aprovado este ano, que provavelmente jamais será cumprido nos termos originais. A mudança da meta de déficit primário zero para o ano que vem foi por ora evitada, mas deve ocorrer assim que a prestação de contas bimestral do orçamento indicar a necessidade de cortes de gastos. Enquanto isso, começam a reaparecer manobras para qualificar gastos como exceções às leis orçamentárias, como foi o caso da bolsa para alunos de ensino médio aprovada rapidamente em novembro e provavelmente será também para outras causas nobres ou não tão nobres no futuro.

Obrigado,

Luciano Sobral, economista-chefe da Neo.

 

Acompanhe os relatórios de gestão da Neo:

Neo Multimercado 30

Neo Provectus I

Neo Argo Long & Short