Prezados(as) amigos(as) e investidores(as),
Os mercados globais tiveram um desempenho desastroso em junho, com praticamente todas as classes de ativos – de dívida soberana AAA a metais e junk bonds – registrando perdas fortes, sob uma percepção de que o cenário do mundo desenvolvido seguiu pendendo para estagflação.
Na nossa avaliação, ainda que a inflação deva seguir incomodando bancos centrais por, ao menos, muitos meses, a economia global ainda está longe de uma contração (i.e. queda no PIB) sincronizada, ainda que a recente alta nos custos de financiamento pareça já ter contratado uma desaceleração importante para o segundo semestre.
o geral, empresas e famílias estão pouco alavancadas, o setor de serviços, mais intensivo em mão de obra, segue se recuperando da pandemia e a China deve voltar a crescer na margem, com estímulos para infraestrutura e afrouxamento de restrições sanitárias.
O alívio nos preços de commodities e no frete marítimo devem, em breve, ajudar a atenuar a inflação de bens, aumentando a margem de manobra para que os bancos centrais consigam evitar altas de juros ainda mais fortes do que o precificado pelas curvas futuras.
No Brasil, o Congresso encaminha-se para aprovar medidas que devem se traduzir em uma queda forte na inflação deste ano (revisamos nossa projeção de IPCA anual para 6,7%), mais renda disponível para consumo (vemos um risco de alta para nossa projeção de crescimento do PIB, ainda em 1,8%) e deterioração fiscal corrente e prospectiva.
Chama a atenção, particularmente, a banalização do uso de emendas constitucionais para atender interesses imediatos e específicos, sem nenhuma defesa dos princípios de construção do orçamento público e de freios para distribuição de benesses públicas em período eleitoral. A aderência total dos partidos representados no Senado à “PEC dos auxílios” mostra que o resultado das eleições de outubro tem baixa probabilidade de reverter essa deterioração institucional.
O Banco Central segue passageiro desses desenvolvimentos, ainda que tenha reforçado a intenção de terminar em breve o ciclo corrente de alta de juros, com a taxa Selic ao redor de 14%. Isso dependerá de um abandono tácito do plano de levar a inflação ao centro da meta em 2023, que poderia ser, convenientemente, atribuído ao risco da “transferência” de inflação entre anos por conta dos cortes temporários de impostos. Seguimos acreditando que cortes de juros serão possíveis apenas a partir do segundo semestre do ano que vem.
Obrigado,
Luciano Sobral, economista-chefe da Neo.
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