Cartas do Gestor – Agosto 2022

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Prezados (as) amigos e investidores,

Em agosto, aprofundou-se a divergência entre as perspectivas econômicas dos Estados Unidos e da Europa. Enquanto os dados de atividade seguem mostrando alguma resiliência (sobretudo no mercado de trabalho e no consumo interno) e a inflação cai nos EUA, a Europa continua afundando num cenário, ao menos temporário, de estagflação. A alta contínua dos preços de gás aumenta a inflação ao consumidor, podendo levar a racionamento de energia elétrica e quedas na atividade econômica, deteriorando a balança comercial e forçando o Banco Central Europeu a aumentar os juros em meio à recessão e os governos a aumentarem os gastos com subsídios.

Essa piora em todos os fronts econômicos – atividade, inflação, setor externo e fiscal – tem levado a uma tendência de depreciação contra o dólar americano do euro e  de demais moedas da região, o que reverbera em outros ativos correlacionados. O outro grande bloco econômico do mundo, ligado à China, também tem sofrido com a queda contínua na percepção de crescimento daquele país, o que consolida a preferência por ativos em dólar refletida nos fluxos globais de investimentos.

A mudança nesse cenário requer, na Europa, sinais mais claros do custo de substituição do gás russo nos próximos anos e, na China, uma solução via intervenção do governo para a crise no mercado imobiliário. É provável que essa mudança ainda leve muitos meses para se desenrolar, com o dólar tendo fôlego adicional para novas altas nesse período.

No Brasil, entramos na reta final da campanha eleitoral com o presidente Bolsonaro ampliando seu estoque de boas notícias econômicas para transmitir aos potenciais eleitores. O crescimento econômico registrado no segundo trimestre surpreendeu o mercado e deve levar a revisões da variação do PIB em 2022 para o intervalo 2,5%-3,0%.

Além disso, a taxa de desemprego segue caindo e a inflação neste ano pode ir abaixo de 6%, caso o petróleo, em reais, se mantenha estável e os cortes de impostos sejam repassados para as tarifas de energia elétrica em setembro (com isso, o governo poderá propagandear três meses consecutivos de queda no IPCA). Com esse cenário, haveria ainda ao menos um novo corte de preços de gasolina na refinaria para ser anunciado pela Petrobras.

Até agora, a conversão em votos dessas benesses parece ter sido baixa, mas é difícil imaginar que isso não mude durante o período mais intenso de propaganda. A conclusão óbvia é que a corrida deve ser mais parelha do que sugerem hoje as pesquisas. Se isso se mostrar correto, é provável que o candidato de esquerda reaja com mais promessas ao eleitorado que requeiram mais deterioração fiscal ou maior carga tributária geral.

Enfim, estão dados os elementos para a tradicional volatilidade nos ativos brasileiros no período pré-votação, que provavelmente se estenderá até que a discussão do orçamento de 2023 e das novas regras fiscais seja concluída, já sabendo quem será o presidente no próximo mandato.

Obrigado,

Luciano Sobral, economista-chefe da Neo.

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